A Revelação da Verdade Divina

Swedenborg Ficha Biográfica

E M A N U E L S W E D E N B O R G


Emanuel Swedenborg nasceu em
Estocolmo, em 1688. Filho de um
bispo luterano, Swedenborg tornou-se
sacerdote, interessando-se também
pelas ciências. Segundo Jorge Luís
Borges, “descobriu-se que ele se
antecipou a muitas invenções. Por
exemplo, a hipótese nebular de Kant
e Laplace. Como Leonardo da Vinci,
Swedenborg planejou um veículo que
poderia voar. Ele sabia que era inútil,
mas via nele um possível ponto de
partida para aquilo que nós
atualmente chamamos de avião.
Também desenhou veículos que se
movimentariam debaixo d’água, como
havia previsto Francis Bacon. Da
mesma forma, logo se interessou,
fato igualmente singular, pela
mineralogia. Foi assessor para
assuntos minerais em Estocolmo.
Interessou-se também pela anatomia.
E. como Descartes, interessou-o o
exato local onde o espírito se
comunica com o corpo.
Dizia Emerson: ‘Lamento dizer que
ele nos legou cinqüenta volumes’.
Cinqüenta volumes, dos quais vinte e
cinco, pelo menos, são dedicados à
ciência, à matemática, à astronomia.
Recusou a cátedra de astronomia da
Universidade de Upsala porque
desprezava tudo que fosse teórico.
Era um homem prático. Foi
engenheiro militar de Carlos XII, que
o respeitava. Os dois se relacionaram
muito: o herói e o futuro visionário.
Swedenborg idealizou uma máquina
para transportar navios por terra em
uma das guerras quase míticas de
Carlos XII tão formosamente
descritas por Voltaire. Transportaram
os barcos de guerra ao longo de vinte
milhas”.
Para Borges, “trata-se de um
místico muito mais complexo do que
os outros; estes só nos disseram
haver experimentado o êxtase, e
trataram de transmitir o êxtase de
um modo até literário. Swedenborg é
o primeiro explorador do outro
mundo, o explorador que devemos
levar a sério”.
Em 1772, quase aos cem anos de
idade, morre Swedenborg em
Londres.


O MÍ S T I C O Q U E T R O U X E A F L O R D O P A R A Í S O


O mais incansável e influente
divulgador da obra de Swedenborg
neste século foi, sem dúvida, Jorge
Luís Borges, que dedicou ao místico
sueco um célebre poema, além de ter
discutido e resumido suas idéias e
visões em prólogos e conferências.
Não bastasse isso, o leitor que folhear
a seção “Etecétera”, do volume
História Universal da Infâmia
descobrirá um fragmento de
Swedenborg reescrito por Borges e
transfigurado em conto magistral.
Como os tratados de Swedenborg
nunca foram traduzidos para o
português, poder-se-ia até imaginar
que o célebre místico do século XVIII
(como os outros que constam das
Ficciones) seria mais uma invenção
borgiana, daí a compreensível
“inacessibilidade” de sua obra. A
verdade é que o contato do leitor
brasileiro com as idéias de
Swedenborg sempre se deu de
maneira indireta e, o que é mais
curioso, através da intermediação de
obras de ficção, o que acabou
acentuando o caráter “irreal” do autor
de O mundo dos Espíritos. Poderia
citar, por exemplo, a famosa novela
de Balzac, intitulada Seráfita, que
mereceu entre nós uma primorosa
tradução de Mário Quintana. Nela, um
anjo swedenborguiano desce à Terra
e desperta paixões em ambos os
sexos, mas não se compromete com
ninguém — a certa altura, os
personagens de Balzac começam a
discutir as idéias do místico sueco, e o
fazem com conhecimento de causa e
bastante probidade, pois se trata de
um diálogo entre iniciados. Seráfita
constitui, assim, uma ótima
introdução ao pensamento de
Swedenborg.
Além de Balzac e Borges, muitos
outros homens ilustres se deixaram
fascinar pelas visões desse místico,
mas quase sempre são artistas os
seus discípulos mais fervorosos. Podese,
inclusive, afirmar que a influência
de Swedenborg na literatura ocidental
foi e ainda é considerável. Baudelaire
— para citar um caso exemplar —
teria se inspirado na teoria das
correspondências do místico sueco
para compor seu célebre poema sobre
a sinestesia, que é uma das matrizes
da arte moderna. Puchkin, na Rússia,
foi um leitor entusiástico de
Swedenborg, sem contar que na
Alemanha este gozou de enorme
prestígio, desde o instante em que
suas primeiras obras, escritas em
latim, foram publicadas. Kant, por
exemplo, chamava Swedenborg de
“Vedor de Fantasmas” e escreveu um
livro — Sonhos de um Visionário —
para discutir o seu caso, expressando
admiração e repulsa pelos diálogos
ora angelicais ora demoníacos
transcritos pelo místico.
Quando Borges comenta
Swedenborg e traça sua influência na
literatura, o faz parcialmente, pois
não menciona nomes como Hoffmann
e Nerval, limitando-se a citar ilustres
escritores e poetas ingleses, que ele
próprio admira e que lhe teriam
revelado a obra do místico sueco —
De Quincy, sobretudo, e o “discípulo
rebelde” de Swedenborg, o poeta
William Blake. (No poema “The
Marriage of Heaven and Hell”, o poeta
inglês afirma ter nas mãos os muitos
volumes da obra de Swedenborg e,
como este, ser capaz de conversar
com anjos e demônios, mas não
poupa críticas ao seu mestre.)
Segundo Borges, o poeta inglês
incorporou a “originalíssima”
concepção de Céu e Inferno de
Swedenborg, mas lhe acrescentou
uma exigência nova: para salvar-se,
não basta ser justo — é necessário,
além disso, ser artista. Swedenborg,
por sua vez, já havia dito que a
inteligência era um requisito
imprescindível para se usufruir
plenamente o Paraíso.
Comecei esta nota introdutória
citando Borges e gostaria de concluíla
da mesma maneira, como que
prestando uma homenagem ao
grande responsável pela redescoberta
da obra de Swedenborg no século XX.
Reproduzirei abaixo um “paradoxo”
borgiano, que originalmente teria sido
elaborado pelo poeta Coleridge:
Si un hombre atravesara el Paraíso en un
sueño, y le dieran una flor como prueba de
que había estado allí, y si al despertar
encontrara esa flor en su mano...¿ entonces,
qué?
Se alguma vez existiu esse
viajante onírico, que trouxe do outro
mundo uma flor verdadeira, concreta
(com cores e perfume), para provar
que o Paraíso existe, outro não é
senão Emanuel Swedenborg, que
nasceu em Estocolmo em 1688 e
faleceu em Londres em 1772, rodeado
de anjos, aos 84 anos de idade:
Um homem que, neste mundo, havia sido
célebre e conquistado grande reputação
como botânico, ao morrer descobriu que, no
outro mundo, havia flores e árvores, e ficou
muito surpreendido. Mas como a botânica
havia sido o prazer de sua vida, lhe foi
permitido percorrer os campos do Paraíso,
e não somente para ver as flores, mas
também para colhê-las, uma vez que estas
eram como coisas reais. Conversando com
esse espírito, ele me disse que as flores
possuíam um brilho inusitado, pois estavam
banhadas por uma luz celeste, e podia-se
perceber, em cada uma delas, inteligência e
sabedoria, e disso provinha o seu esplendor.
O trecho reproduzido acima consta
do Tratado das Representações e das
Correspondências e constitui uma
amostra fiel daquilo que o leitor
encontrará em O Mundo dos Espíritos,
que é o escrito mais popular de
Swedenborg e também a melhor
introdução ao seu sistema místico,
esse imenso tecido polifônico onde
milhares de anjos e espíritos
desencarnados descrevem com
extraordinária minúcia sua
experiência no outro mundo,
enquanto cada palavra que proferem
é anotada por um homem
extraordinário, que foi cientista e
engenheiro de prestígio, antes de
abraçar a sua verdadeira vocação
(esta lhe foi revelada pelo próprio
Senhor, numa obscura viela de
Londres): a de místico, talvez o mais
original que o Ocidente já conheceu.
Sérgio Luiz R. Medeiros
São Paulo, 1992

Faça o download deste breve texto da biografia resumida de Swdenborg: 28743883-Emanuel-Swedenborg-ficha-biografica.pdf (68,1 kB)

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